As pessoas estão perdendo a capacidade do
carinho. Carinho é uma palavra que faz mais sentido no Brasil do que em
muitos outros países. Carinho é diferente de carícia. Carinho tem a ver
com expressão de amor, de querer bem, de cafuné. Carícia, em
linguagem popular, está mais relacionada a sexo ou sensualidade. Carícia
pode estar impregnada de carinho numa relação amorosa do casal. Mas é
possível fazer carinho ou acariciar sem estar necessariamente num ato
sexual. Carinho, até pela expressão diminutiva ao final da palavra,
parece remeter a algo mais leve, despretensioso, expressão de amor, de
cuidado e de atenção.
"Embora pudéssemos, como enviados de Cristo, exigir de vós a nossa manutenção, todavia, nos tornamos carinhosos entre
vós, qual ama que acaricia os próprios filhos; assim, querendo-vos
muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de Deus,
mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes muito
amados de nós". I Tessalonicenses 2:7.
Essa passagem e a de Lamentações de
Jeremias 2:20-22 são as únicas na Bíblia brasileira que incluem a
palavra carinho. Isso no caso das traduções mais confiáveis. O sentido
de carinho nesses versículos é a relação entre os pais e seus filhos,
"aqueles do meu carinho", a quem se dedicam por toda a vida para que
possam se tornar autônomos, capazes e felizes. Antigamente as fontes de
carinho mais usuais eram encontradas na família. Na escola, na igreja e
no trabalho fabril não havia espaço nem tempo abertos ao carinho. Hoje
parece que o ritmo e estilo de vida que nos impomos torna mais difícil
que a família consiga se acarinhar. A competição, o individualismo e a
pressa tornaram a agressividade o sentimento mais comum de ser encontrado. Enquanto isso, a família fica relegada a um plano de muito mais afastamento do que antes.
Eu vejo Jesus como
a expressão do carinho de Deus. Um dos sentidos da palavra COMPAIXÃO é o
carinho de alguém preocupado com o bem-estar do outro. Jesus se
compadecia, geralmente quando olhava alguém ou uma multidão e percebia
profundamente sua fome, frio, vazio espiritual ou falta de sentido.
"Vendo
ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e
exaustas como ovelhas que não têm pastor. E, então, se dirigiu a seus
discípulos: a seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são
poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a
sua seara". Mateus 9:36-38
Quando
Jesus de compadece e manifesta seu carinho, ele se preocupa com a
maneira como as pessoas estão perdidas, atarantadas, olhando o tempo
passar sem saber onde se encaixam no mundo. Falta um sentido na vida da
maioria das pessoas. E a razão de viver que o mundo oferece parece se
concentrar exclusivamente no consumo, na posse material e em padrões
inalcançáveis e falsos de beleza. Pessoas sem rumo ou no caminho errado
tornam a realidade coerente com um projeto de destruição. O carinho de
Jesus dá sentido à vida.
"E, chamando Jesus os seus discípulos, disse: Tenho compaixão
desta gente, porque há três dias que permanece comigo e não tem o que
comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça pelo
caminho". Mateus 15:32.
Quando Jesus se compadece Ele busca
saciar as necessidades materiais das pessoas: fome, sede, exposição aos
elementos frio, chuva, calor etc que ameaçam a sobrevivência ou a
dignidade humana. Quem vive confortavelmente às vezes não se dá conta
que na esquina de sua casa ou bem próximo está alguém que se encontra
sem as mínimas condições de vida. Gente que se sente tratada como animal
ou pior. O carinho de Jesus resgata as pessoas da miséria.
"Desembarcando, viu Jesus uma grande multidão, compadeceu-se dela e curou os seus enfermos". Mateus 14:14.
A
sociedade moderna é pródiga em novas e velhas doenças. Além das doenças
já conhecidas começam a surgir distúrbios psicossomáticos variados,
derivados de uma situação de profunda instabilidade e insegurança que as
pessoas vivem. As pessoas começam a morrer ou a ficarem doentes graças
ao padrão de vida imposto, que promove solidão e deslocamento da
realidade. Em Cristo a vida se fundamenta numa base sólida, segura e
real. O carinho de Jesus cura, como nos mostra Mateus 17:14-21, quando
um pai roga por seu filho endemoninhando.
"Como
se aproximasse da porta da cidade, eis que saía o enterro do filho
único de uma viúva; e grande multidão da cidade ia com ela. Vendo-a, o
Senhor se compadeceu dela e lhe disse: Não chores! Chegando-se, tocou o esquife e, parando os que o conduziam, disse: Jovem, eu te mando: levanta-te! Sentou-se o que estivera morto e passou a falar; e Jesus o restituiu a sua mãe". Lucas 7:12-15.
Uma
viúva à época de Jesus era alguém que dependeria de seus filhos ou da
caridade. Uma viúva sem filhos era destinada, na maioria das vezes, a
esmolar e a viver na miséria. O olhar carinhoso de Jesus se importa com o
sofrimento alheio, não se assemelha em nada ao olhar de indiferença que
parece predominar no mundo moderno. As pessoas não se emocionam mais
com a miséria, o sofrimento e o choro do outro. Predomina a mentira que
afirma ser miserável e sofredor quem merece ou deu azar. Quem não se
importa não demonstra carinho, no máximo faz arremedos de carícias.
Jesus restitui vida a quem está morto, resgata do vazio para levar á
convivência. O carinho de Jesus cura. O carinho de Jesus é solidário e
consola. Creio sinceramente que precisamos oferecer mais carinho, como
Jesus.
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