segunda-feira, 26 de março de 2012

As Estações



Autoria: Marco Aurelio Brasil

Temos atado ao pulso um lembrete constante da descomunal importância do instante. São 08h41 e se havia uma forma melhor de eu ocupar o minuto conhecido como 08h40 de hoje, já passou. Meu relógio é um eloquente acusador de minha dolorosa temporalidade.

A importância e o peso disso podem ser ilustrados pelas muitas peças de ficção que foram baseadas na hipótese de isso não ser assim: e se pudéssemos viajar no tempo? E se pudéssemos rearranjar as coisas, tentar de novo, alterar o curso dos acontecimentos?

Os dias que ficaram para trás, fechados e acabados estão. É cruel mas é assim. "Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios", orou o salmista (Salmo 90:12).

Mas, embora tenhamos o lembrete desse fato atado ao pulso, somos ases em driblar um pensamento tão doloroso. Vivemos como se fôssemos eternos e como se a qualquer momento pudéssemos corrigir as coisas que fizemos ou deixamos de fazer. Não podemos reclamar do Criador. Ele está constantemente nos lembrando de que o tempo anda para frente e só para frente. Ele o faz no nascer e deitar do sol, faz nas fases da lua e também de forma mais abrangente, nas estações do ano.

Na série de fantasia "Uma canção de gelo e fogo", de George R. R. Martin, cada estação pode durar vários anos, o que faz do inverno algo especialmente temível. Uma das casas nobres que protagonizam a história tem como lema a lúgubre certeza de que "o inverno está chegando". As pessoas nascidas no verão são olhadas pelos mais velhos com comiseração, são "crianças do verão", gente que não conheceu a impiedade do inverno. Ali, portanto, torna-se imprescindível aproveitar bem o verão. É a estação propícia para fortificar as propriedades, estocar alimentos, garantir a subsistência quando a neve chegar.

Em Jeremias 8:20 há este triste lamento: "Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos." Deus disse que um dia diria "basta!", e então pecado e pecadores seriam parte de um passado não passível de mudança. Quando isso acontecer, estaremos salvos ou irremediavelmente perdidos. Este momento é antecipado para cada um que encontra a morte e o apelo do Pai é para que aproveitamos o verão. As estações se sucedem, este é um fato da vida, e Ele nos adverte a não brincar com elas. Não se brinca com a vida.

Levi de Paula Tavares

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